A Lovers & Lollypops foi criada em 2005, fruto da urgência característica do DIY, do impulso em fazer acontecer e da vontade de documentar e dar a conhecer toda a música que, na altura, nos entusiasmava.
Dezassete anos e mais de cem discos depois, essa continua a ser a grande motivação: registar aquele que tem sido um dos momentos mais férteis da criação musical feita em Portugal e além fronteiras, através da edição discográfica, da promoção e do agenciamento.
Desde os primeiros passos e paralelamente à actividade editorial, a L&L enveredou pela organização de concertos e festivais - dos quais se destacam os icónicos Milhões de Festa e Tremor - num constante acto de reinvenção, procura de novos caminhos e linguagens, que se juntam em torno de ideias fundadoras como a frescura, o lirismo e a persistência.
Depois de um (digamos que merecido) mês a meio gás, a Lovers & Lollypops está de volta às lides laborais para mais quatro meses de concertos, residências, eventos e edições. E que melhor forma de fazer a transição entre a praia e a cidade do que recorrendo aos talentos de um dos nomes que mais nos fez dançar este ano? Sim, o alquimista ugandês Faizal Mostrixx está de regresso a Portugal, para mais uma imersão no seu repertório de fusão entre os ritmos africanos ancestrais e as movimentações da electrónica mais futurística.
Dia 14 de setembro - a partir do espaço com sede da Rua de São Vítor - celebramos o segundo semestre também com as atuações da dupla OMNE, composta por Joaquim Durães e Patrícia Brito, e de Horto.
A acompanhar as propostas musicais, um cardápio de petiscos da autoria de Ana Ferraz.
Maria Reis está de regresso às edições em nome próprio e o concerto de apresentação no Porto já tem data marcada. Dia 27 de setembro, no Espaço da Lovers & Lollypops na Rua de São Vítor 143-A, Porto.
Suspiro - editado no início deste mês e criado em colaboração com o produtor Tomé Silva - continua a mostrar-nos a singularidade do trabalho de Reis, num universo marcado por uma nova maturidade na lírica e nos arranjos. Observadora atenta e sensível ao espaço íntimo e circundante, Maria Reis continua a explorar a palavra de uma forma muito sua, num acto poético tão brutalmente honesto e cru quanto pejado de alusões imagéticas.
Arianna Casellas e Kauê, apresentação de "Suenan las Campanas".
Solar Corona Elektrische Maschine é composto por Nuno Loureiro (sintetizadores e processamento), José Roberto Gomes (baixo), Pedro Carvalho (bateria e percussão) e Rodrigo Carvalho (guitarra sintetizadores).
Marie Davidson em estreia em nome próprio no Porto.
Não raras vezes são as coisas com dimensão mais pessoal que conseguem atingir a universalidade. Esta será provavelmente uma das razões que explicam o porquê do trabalho de Marie Davidson conseguir tocar tantas pessoas. Nascida em Montreal, no Canadá, Davidson é produtora, DJ, cantora e compositora. Ativa há mais de uma década, a sua música vive de uma entrega vocal idiossincrática e uma paleta sonora em constante expansão.
Nos palcos, Davidson tem vindo a ganhar fama pela forma única como mistura percussões incisivas, sintetizadores assombrosos e melodias cativantes ao vivo. Prova disso é a, ainda recente, memória da sua passagem pelo festival Tremor.
Os seus discos, lançados por editoras tão relevantes como a Ninja Tune, Cititrax (Minimal Wave) ou a DFA Records, têm vindo a ser defendidos com louvor pela imprensa da especialidade.
Jibóia apresentam "Salar".
“Phantone”, o álbum de estreia de Angélica Salvi expressa aquilo que se tem vindo a aprender com o seu trabalho ao longo dos últimos anos: tem uma habilidade única para comunicar e se expressar livremente com o seu instrumento, a harpa. Natural de Espanha, mas residente do Porto desde 2011, onde lecciona no Conservatório de Música. O seu percurso inclui colaborações com Evan Parker, Orquestra Sinfónica da Casa da Música, Ensemble Modelo 62, Brokkenfabriek, Butch Morris, e trabalhos desenvolvidos para a Sonoscopia ou o Balleteatro. O álbum, gravado durante o Encontrarte de Amares, no Mosteiro de Rendufe, procura a liberdade sonora e explora a forma como o som pode habitar um espaço através de diferentes camadas e caminhos. O fantasma que existe nas sete peças de “Phantone” é bem real, mas menos formal do que se imagina. Mais uma afirmação do que uma presença, seja nos lugares imaginados da música de Salvi ou nos efeitos em concreto que a gravação no Mosteiro produziram na sua música. Música que se lê, ouve, cheira, sente e se prova.
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Foi depois de uma actuação com Jacco Gardner que Jasper Verhulst se apaixonou pelo som da Turquia dos anos 70, altura em que nomes como Selda, Barış Manço e Erkin Koray começavam a cruzar a tradição local com elementos do rock ocidental. Ao lado de Ben Rider e Nic Mauskovic, encetaram na busca por músicos turcos que os pudessem ajudar a fazer renascer este som. Encontraram Merve Dasdemir e Erdinc Yildiz Ecevit pelo Facebook, e Gino Groeneveld “roubaram-no” aos Jungle by Night. Pegando no repertório dos heróis turcos que os inspiraram, nos seus pares contemporâneos e nas músicas do cancioneiro tradicional, estes Altın Gün reinventam o casamento entre o Oriente eo Ocidente, numa linguagem cruzada entre o funk, o psicadelismo e o rock. No seu disco de estreia, “On”, os quatro “amsterdammers” instalam-se definitivamente nesta aventura pela terra de ninguém que existe entre os dois mundos.
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Artista interdisciplinar, Ava Rocha é iluminadora, fotógrafa, figurinista, ilustradora, atriz e cozinheira. Uma hiperactividade que herdou, em grande medida, dos pais (o realizador Glauber Rocha e a fotógrafa, poeta, cineasta e artista plástica Paula Gaitán) que, desde tenra idade, a expuseram a uma multiplicidade de linguagens artísticas e criatividade. Apontada como uma das mais interessantes artistas brasileiras do seu tempo pelo The New York Times, construiu, em discos, um repertório que carbura nas referências do tropicalismo mas que se abre além disso, provando que a música contemporânea do Brasil tem vindo a descobrir novos universos fora das suas fronteiras. No mais recente registo, “Trança”, volta a entregar-nos uma pop apostada em olhar para a frente, entrelaçando rock, funk, post-punk, electrónica, grooves e percussões entre a África e a Amazónia.
Ava Rocha, participou em discos de artistas como Jards Macalé, Negro Leo e Gustavo Galo e projectos como “E Volto Pra Curtir”, “Mulheres de Péricles” e o filme JARDS. Faz parte do Baile Primitivo, coletivo de arte político que entoa sambas de contestação social, tendo compondo também bandas sonoras para cinema, onde trabalhou como montadora.
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Em 2018, um griot (nome dado, na África Ocidental, àqueles que têm por vocação preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo) do Burkina Faso conheceu a dupla de pós-punk noise de Bruxelas Le jour du seigneur. Um encontro num mundo de viajantes, que abriu as portas para a construção de um novo espaço de conhecimento onde se juntam saberes de diferentes latitudes. Desde então têm vindo a desenvolver um universo único entre experimentações sem rede e incríveis grooves pós-modernos. O trio toca, principalmente, as composições de Kaito, às quais são adicionados, livremente, os contributos de todos os membros.
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Roubaram o seu nome aos Mão Morta, o groove do baixo aos Sleep, o fuzz da guitarra ao Hendrix e a bateria em modo locomotiva aos Earthless. Tal como os Sex Pistols, com o que roubaram, fizeram algo novo e próprio; não uma carrinha punk, mas uma nave espacial stoner com duas velocidades apenas – a de órbita e a de escape, propulsionando-nos para o vácuo sideral onde um riff esticado à eternidade parece durar apenas o suficiente para induzir o transe. Donos daquele que é, provavelmente, o mais fascinante psych rock com fonte nacional, o colectivo surge do efervescente movimento de novas bandas saída de Barcelos dos finais de 90. Hoje, com sete discos editados e uma mão cheia das mais relevantes colaborações (de Peter Brotzman a La La La Ressonance, de Jonathan Saldanha, a João Pais Filipe), são uma das bandas mais referenciadas do underground português.
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Para este projeto , na sequência de uma encomenda feita pelo Festival Curtas Vila do Conde , os Black Bombaim convidaram João Pais Filipe , baterista/percussionista do Porto, para colaborar com o trio de Barcelos na criação da banda sonora do filme “Dragonflies with Birds and Snake”.
Este foi o mote para o começo do trabalho em conjunto, polirritmos que induzem o espectador em transe. Juntando as várias dinâmicas possíveis que se podem esperar de um músico como João Pais Filipe , também ele um artesão no fabrico de instrumentos.
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Os Boogarins “Dinho” Almeida e Benze Ferraz tocam música juntos desde a fervente adolescência. Nos jardins dos seus pais começaram a criar pop psicadélico, filtrando a rica cultura musical brasileira por entre lentes modernas. Passando de dueto para quarteto, com Ynaiã na bateria e Raphael no baixo, estreiam-se nas edições com “As Plantas Que Curam” (2013), disco que deixou o Brasil e Portugal de mãos dadas e ajoelhados perante os amplificadores sujos que gritam coisas bonitas. Daí entregaram-nos “Manual”, registo que os reconfirma como quatro dos mais entusiasmantes rock’n'rollers que já fizeram a rota de Pedro Álvares Cabral, e, em 2017, “Lá Vem a Morte”, LP editado com rasgo de surpresa. Em 2019, dão passo certeiro na internacionalização, com um quarto álbum gravado no Texas e que continua a mostrar a vontade da banda em explorar as várias potencialidades de estúdio. “Sombrou Dúvida” é um retrato do mundo actual, instável e pessimista, que simultaneamente tenta reverter tudo isso com o positivismo da tecnologia. Um registo que anda na corda bamba, questionando as relações e o lugar delas no mundo, num conjunto de canções que sussurram a incerteza dos tempos enquanto nos dizem que está tudo bem
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São uma das mais importantes bandas a sair da safra de novos criadores de Goiana no Brasil. Fundados em 2013 pelo casal Salma Jô e Macloys, a quem se juntaram João Victor Santana e Aderson Maia, os Carne Doce têm construído em seu torno a reputação de serem uma das mais explosivas e sensuais bandas a tocar ao vivo, hoje, no Brasil. Com “Tônus”, o terceiro disco de originais, solidificaram o lugar de destaque na cena autoral do país, adensando ainda mais a sua viagem pela intimidade, a vulnerabilidade humana e os jogos de poder.
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COBRACORAL é um projeto que entrelaça as vozes de Catarina Miranda (Portugal), Clélia Colonna (França) e Ece Canli (Turquia). Cada uma traz a sua prática vocal artística para a trama: a exploração coreográfica da oralidade de Miranda, as pesquisas de Colonna sobre o canto polifônico oriental e mediterrâneo, e as experimentações vocais estendidas de Canli. O resultado é uma trança a cappella que tece o tempo em uma estrutura que mantém a coesão de um pulso comum através das dinâmicas variadas de reação e adaptação.
Booking: José Roberto
Fumo denso, jogos de snooker em que ninguém mete a preta e mais de 666 cervejas entornadas entre o corpo, o chão, e o balcão. Cobrafuma é um elenco de proto-veteranos do Porto que ouviram o chamamento da Cobra entre shoppings manhosos e bares de chão pegajoso.
Na sua primeira bisca homónima, lançada em 2023, o som é rijo como aço e cheio de veneno, e rasteja entre géneros que não prestam contas a ninguém: punk, thrash e rock'n'roll, sibilado em Português Suave e bem regado a aguardente bagaceira sem rótulo.
Booking: José Roberto
Duas vozes singulares imersas numa polifonia hipnótica dirigida pelo saltério, pelos pés e pelas mãos. Num explosivo tête-à-tête, as duas artistas partilham e desenvolvem as suas personalidades vocais complementares afinadas ao longo de dez anos de colaborações artísticas. Cocanha cultiva o minimalismo através da sinceridade de um som acústico suportado pela percussão amplificada que envolve o corpo na dança. O Occitano, a língua oficial da Catalunha Francesa, é o parque de recreio onde exploram as idiossincrasias e texturas únicas de cada som. Partindo do repertório tradicional da região, geram movimento em torno de arquivos esquecidos transportando-os para a tradição oral contemporânea.
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Francisco Lima, Raul Mendiratta e José Miguel Silva são os participantes desta Conferência Inferno. No início de 2021 revelaram Ata Saturna, o seu primeiro longa duração. Nascidos em percursos por Portugal, mas nidificados no Porto, fizeram-nos chegar o espelho da desumanização, com letras desoladoras e pejadas de crítica social. Com influências darkwave e post punk são a prova de que não é preciso baterias nem guitarras para ser punk. Algo que já conhecíamos de Bazar Esotérico, EP lançado no Verão de 2019 ainda em formato duo, onde registaram retratos nocturnos de uma cidade imberbe na arte de ser urgente.
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Em setembro de 2016, a banda de vodu haitiana Chouk Bwa conheceu a dupla de Bruxelas The Ångströmers. Este novo projeto combina uma nova sensibilidade do dub e a ciência e espiritualidade dos ritmos haitianos. Sintetizadores modulares e outros instrumentos eletrónicos vintage trazem outra dimensão à música de Chouk Bwa, embora obviamente seja sempre o groove e o ritmo fluente da banda que conduzam a energia do conjunto: sem pcs, sem baterias eletrónicas. Existem certas liberdades que não podem ser coagidas. Todas as famílias Vodu estão lá, personificadas nos diversos ritmos e canções. Raízes radicais do Vodu para o público urbano.
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Os últimos anos têm sido ocupados para João Pais Filipe. Da edição em duo com Paisiel ao disco em nome próprio, das colaborações com HHY & The Macumbas ou Black Bombaim, passando pelos encontros no exterior com Burnt Friedman, GNOD, o percussionista africano Omutaba e o mestre peruano Manongo Mujica, pouco tem sido o tempo que o percussionista e construtor de gongos tem tido para parar. Daí que o desafio para esta que, dizem, se tornou uma bela história de amor, tenha vindo da editora-mãe: Lovers & Lollypops. A ideia era ver apenas um concerto de Tomaga, banda de Valentina Magaletti, mas a química, sedimentada pela noite boémia do Porto, foi imediata. E é dela que se forja “The Golden Path”, disco lançado sob a insígnia CZN. Nocturno, visceral, errático, imersivo, este “caminho dourado” por que ambos nos guiam, recoloca a música e o seu papel histórico no centro da espiritualidade humana: unindo o instinto com a disciplina, a realidade com o sonho, o finito e o eterno.
Booking: joaquim@loversandlollypops.net
São uma das bandas mais emocionantes que conhecemos, sobretudo pela forma como nos levam por uma jornada psicoativa única, que agarra naquilo que o Brasil tem de mais primitivo e o transforma em algo novo e alucinante. Uma espécie de Ayahuasca sónica marcada pelo ritmo da percussão polirrítmica brasileira, do canto hipnótico e do mais cru e puro punk. Com “Metaprogramação”, o mais recente disco de originais, levam essa mistura a extremos totalmente novos, construindo uma narrativa em que as músicas se fundem e se dissolvem, as pulsões electrónicas se misturam com o poder de tecidos rítmicos, tudo freneticamente criado para desenhar esse “cenário psíquico de um primitivo futuro”. Uma jornada psicadélica e selvagem que está destinada a alcançar a mente através do corpo enquanto inebria os dois.
Booking: joaquim@loversandlollypops.net
Ece Canlı estreou-se a solo com Vox Flora, Vox Fauna, uma série de paisagens sonoras assomadas por técnicas vocais estendidas, poesia extralinguística e outros instrumentos sonoros. O percurso da artista turca radicada no Porto conta com várias colaborações: NOOITO, duo com a harpista Angélica Salvi; Live Low, banda portuense iniciada por Pedro Augusto, e Cobra’Coral, trio vocal com Catarina Miranda e Clélia Collona. Este primeiro trabalho em nome próprio foi gravado numa residência artística em Alpendurada, numa loja de terra batida, onde habitualmente se guardam batatas e cebolas. O ambiente e a energia criados pela iluminação do espaço incorporaram de forma muito clara o disco, que evoca e cristaliza a incorporação do humano-animal-natureza.
Agenciamento: jose@loversandlollypops.net
Com um estilo muito próprio de constante reinvenção, os Flamingods têm conseguido conquistar o seu lugar, percorrendo com conforto e destreza os territórios vastos do psicadelismo e do rock experimental. Inspirados pela colecção de instrumentos de percussão adquirida por Kamal Rasool, o fundador da banda, nas inúmeras viagens que realizou pelo globo com a sua destemida família, a banda nasceu em Londres, em 2010, juntando Kamal Rasool, Charles Prest, Craig Doporto e Sam Rowe, amigos de infância oriundos do Bahrain, o pequeno estado insular do Golfo Pérsico, ao inglês Karthik Poduval. Actualmente, com Rasool a viver no Dubai, a banda vive separada entre as duas cidades, facto que tornou os Flamingods um caso exceptional - nunca gravaram um álbum inteiro juntos em estúdio.
Booking: marcio@loversandlollypops.net
Gaye Su Akyol é uma artista multidisciplinar residente em Istambul. No seu trabalho, ela redefine os conceitos de poder, desejo, mudança e rebelião, de mãos dadas com uma forte solidariedade para com as mulheres, comunidades queer e marginalizadas, e revoltando-se contra os papéis sociais de género, o patriarcado, a censura e a opressão. No mesmo ela cria um universo de imaginação, no qual constrói a sua própria “contra-realidade” contra as realidades sufocantes ditadas pelo poder. Sem se alienar da terra onde nasceu, ela questiona as suas representações, define novos símbolos e, ao mesmo tempo, luta com as complexidades e o caos político do mundo concreto, persegue a prática de transformar um mundo conservador através do sonho coletivo.
Gaye Su Akyol criou a sua própria linguagem única, pegando nos contrastes da música tradicional da Anatólia, da música clássica turca, da psicadelia, do surf rock e do pós-punk e combinando-os com a sua abordagem futurista.
Booking: Márcio Laranjeira
Os Ghost Hunt não andam à caça de fantasmas, nem querem assustar ninguém, mas a música que fazem podia ser a banda sonora de uma rave numa casa assombrada. Cresceram na mesma cidade, Coimbra, andaram na mesma escola e foram, praticamente, da mesma turma, mas nunca pertenceram à mesma “tribo”. Pedro Chau, dos The Parkinsons, sempre esteve mais ligado ao punk; e Pedro Oliveira, ex-membro do Monomoy, andou sempre mais perto do universo indie. Hoje, já mais velhos, formam a dupla electrónica Ghost Hunt. A idade é mesmo assim, desperta-nos os ouvidos e a mente para outras influências que, afinal, sempre estiveram ali ao nosso alcance, mas que nem sabíamos que as tínhamos.
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Desde 2018, Inês Malheiro tem vindo a construir um repertório a solo que tem como matéria-prima uma voz criadora de narrativas sonoras. A The Endless Chaos Has an End, uma série de músicas lançadas no SoundCloud, juntam-se liquify, spread and float, um álbum-performance improvisado ao vivo e editado no início de 2022, e projetos como a sonoplastia de Práticas Laboriosas do Enxofre (2022), Canal-Conduto (2020) com Gonçalo Penas, e Organismus Kathársis, co-criado com Francisca Marques. Deusa Náusea, o seu mais recente disco, oscila entre o sonho fragmentado e o pesadelo febril, explorando a mente e o subconsciente através de sonoridades espectrais de beleza sublime e vozes cortadas que compõem a banda sonora dos nossos episódios oníricos.
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João Pais Filipe é um baterista, percussionista e escultor sonoro do Porto, nascido na década de 80. O seu trilho enquanto músico é assinalado pela colisão de uma grande amplitude de estilos e linguagens, em bandas como os Sektor 304, HHY&The Macumbas, Unzen Pilot, Paisiel ou CZN. Ao mesmo tempo que mantém uma actividade regular no universo da música improvisada, tendo participado em inúmeros projectos ao lado de nomes como os de Burnt Friedman, Steve Hubback, Fritz Hauser, Evan Parker, Marcello Magliocchi ou Rafael Toral.
A sua música surge da construção de gongos, pratos e outros instrumentos percussivos de metal, onde explora a dimensão escultórica e as suas propriedades acústicas. Liberto avança sobre a tensão entre o mecânico e o orgânico, entre a repetição e o loop, entre a pista de dança e o mantra, e cria um espaço próprio etiquetado ethno-techno, onde as cadências do dancefloor são apropriadas, reinterpretadas por um kit de bateria desenhado à sua medida e canalizadas através de imperfeições e texturas rústicas para uma nova expressão das suas possibilidades.
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Jorge Coelho carrega nos dedos a força da geração que ditaria o ritmo da produção musical no Porto. Com um passado fortemente enraizado na cultura sónica da cidade, o guitarrista explora as possibilidades das cordas em diversas frentes, ora dobrando convenções com Torto, ora aprimorando a arte de contar histórias com dedilhados em nome próprio. Invariavelmente, e com a destreza de quem nasceu para isto, é com o seu instrumento sinuoso que, de forma reta, Jorge Coelho continua a firmar-se como uma força na arte de escrever música.
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A música de Julius Gabriel é, na sua apenas aparente abstração, assombrada pelas vidas anteriores de saxofonistas cuja música atravessou o tempo como uma ventania inaudita de som. Em “Dream Dream Beam Beam”, o seu primeiro álbum a solo, o saxofonista alemão organiza as suas idiossincráticas influências musicais para criar um mantra fluído de padrões circulares, overtones e erupções de free jazz, que pode ser compreendido como a síntese possível de uma longa tradição jazzística intercetada por imaginativas intrusões de drone e noise. No seu mais recente trabalho, “Ætherhallen” Julius Gabriel mantém o registo, com uma passagem pelo psicadélico e um desvio ao minimalista. As composições improvisadas de Julius Gabriel soam como excêntricas partículas de pó dançando numa luz crepuscular e em câmara lenta até ao fim dos tempos, propondo àqueles que as ouvirem um réquiem para a vida eterna.
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Os Killimanjaro chegaram, viram, venceram. Rock do melhor tipo que se exporta a partir de Barcelos, trouxeram o refrescante ao que estava estagnado. Do metal clássico aos seus desvios mais musculados de frequências graves, da escola Sabbath ao cabedal dos Iron Maiden, desenvolveram a técnica de abordagem perfeita. Entre o hastear de pavilhões, a execução perfeccionista de nós e uma síncope de riffs robustos e de corações cantantes, mantêm-se invictos na arte de embalar os corpos em headbangs bem justificados. Ao artesanato refinado que constroem só lhe interessa o palco, onde num só fôlego dissipam qualquer tipo de dúvidas sobre aquilo que fazem: os Killimanjaro sabem como disferir um gancho à Mike Tyson sem nos arrancar as orelhas.
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Não sabemos quem teve esta ideia, mas por nós mereceria uma medalha. Juntar aquele que é, sem dúvida alguma, o melhor e mais alucinado vocalista que este país viu nascer (um título que, por mérito próprio, exibe desde meados da década de noventa com os Zen e recentemente renovado na insanidade dos Plus Ultra) aos Greengo, provavelmente a maior força propulsora que a Invicta viu nascer por entre baforadas carregadas de intenção e acidez. Gon encontra no baixo de Martelo e na bateria de Chaka as carruagens de fogo ideais para se lançar numa infindável lista de diatribes sobre isolação, alienação, corrupção, o vazio consumista deslumbrado com a tecnologia ou a cultura empresarial. É brutalista o som que nos despejam e, em larga medida, impossível de acorrentar. Música que exige ressonância e espaço para ser sentida, que cresce em urgência no espírito carbonário com que nos obriga a uma reflexão sobre a vida sem regras e responsabilidades hipócritas. Rejeitemos, com eles, a ideia de que temos de nos tornar num ideal, um camarada devoto do pensamento único, distante de sermos um indivíduo e não apenas parte de uma tribo.
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Trazidos pela brisa psicadélica diretamente de Istambul, os Lalalar misturam funk anatólio, sampling e eletrónica febril. Música de ritmo alucinante, batidas futuristas e uma energia contagiante são algumas das possíveis descrições para os dez singles até agora lançados e o seu primeiro álbum, Bi Cinnete Bakar. Uma estreia no Açores, para dançar e experienciar com todos os sentidos.
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A capacidade de provocar, chamar a atenção e transformar em menos de dois minutos revelam talentos necessários num tempo de constante explosão. “Cavala”, o disco de estreia de Maria Beraldo, morre e renasce por diversas vezes ao longo das suas dez canções. Tudo concentrado em 24 minutos. Transformações instantâneas e repentinas que reflectem a urgência da mensagem que tem para a passar e a vontade de se afirmar como uma mulher lésbica no universo cancioneiro brasileiro da actualidade. “Cavala” rasga com tudo, até com o seu próprio passado. Outrora tocou clarinete e clarinete baixo na banda de Arrigo Barnabé, fez parte dos Quartabê e integrou os Bolerinho, colaborou com gente como Elza Soares, Negro Leo, Iara Rennó e Rodrigo Campos. Detalhes para ilustrar a nova vida, carregada da ambição de se mostrar como compositora e arquitecta de fábulas pop que sejam armas que adocicam ouvidos e transformam mentes. Quem disse que os gritos não poderiam ser doces?
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Marlene Ribeiro é mais conhecida pela sua década de trabalho com Gnod. Ao longo da sua carreira desenvolveu inúmeras colaborações, tendo integrado gravações e projetos com artistas do Reino Unido e do exterior. Um dos exemplos mais recente é a colaboração com a percussionista Valentina Magalleti em Due Matte. Marlene explora uma variedade de instrumentos ao vivo, field recordings, eletrónica e voz, com o objetivo de criar uma névoa de sonho com elementos psicadélicos.
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A proeza musical de Nicola Mauskovic, baterista de Jacco Gardner, esboçada em estúdio com os amigos Donnie Mauskovic, Em Nik Mauskovic e Mano Mauskovic oferece-nos uma experiência musical singular. Apalpando o afrobeat dos anos 70, a cumbia e todo o som hipnótico capaz de provocar a dança mais balançada e sentida, fruto dos distintos percursos de cada um dos seus membros, The Mauskovic Dance Band é símbolo definitivo de festa na cena musical contemporânea. O disco homónimo de estreia, com carimbo da incontornável Soundway, volta a agarrar no universo explorado por “Down In The Basement”, o primeiro EP, filtrando as claras influências na música afro-latina da Colômbia e Peru pela lente de produção da Amsterdão contemporânea. Um “explosão controlada”, como lhe chama a The Quietus, assente num amor professo pela champeta, palenque, cumbia psicadélica, chichi e o picó.
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Quem passa por Alcobaça não passa sem lá voltar. A não ser que já se seja de lá, e que se saiba que para além da adoração à arte da doçaria conventual, também vai perdurando a veneração por outra arte menos antiga, a de fazer rock n’ roll. Terá sido mais ou menos assim com Mr. Gallini, nascido em Pisões, e a quem os pais deram o nome Bruno Monteiro. Começou nesta vida rock enquanto baterista de outros irmãos da mesma região, os Stone Dead, com os quais já percorreu palcos por todo o Portugal. Sem esquecer a casa-mãe, mas procurando também encontrar o seu próprio espaço enquanto artista a solo, Gallini lançou “Lovely Demos”, o seu álbum de estreia, em 2018, e apresentou, em 2019, o seu sucessor – que é, também, o segundo tomo de uma trilogia anunciada. “The Organist” mostra o lado mais pop de Gallini, seguindo um método sempre rock (refrões, juventude, electricidade), mas deixando espaço para que outras ferramentas mais electrónicas (teclados, theremins e vocoders) possam também respirar, num álbum que bebe tanto à brit-pop dos anos 90, como à space era dos anos 50, mas que soa vivaço e atual, sem cair nos pantanosos terrenos da mera nostalgia.
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O Gringo Sou EU tem como formação espontânea o convívio na periferia das grandes cidades e favelas brasileiras. Observador inquieto, em Portugal desde 2010, o também conhecido por Frankão resolveu criar um projecto de letras inspiradas na sua visão de mundo e quotidiano, de beats fervorosos e linhas simples.
Sob o som do tamborzão vem somando novos valores ao seu estilo, sem saudosismo, mas com a mesma pureza de quando começou na década de 90. Não obstante, em tom de combate às assimetrias e tomando, cada vez mais, uma forma global.
Com uma forte componente de crítica política, actua simultaneamente na área sociocultural, formando colectivos musicais com crianças e jovens, desde as comunidades desfavorecidas do Rio de Janeiro até aos bairros sociais portugueses.
No Porto, onde reside desde 2013, é também parte integrante do Samba Sem Fronteiras e dos HHY & The Macumbas, marcando presença em vários países e festivais como Sónar e Boom Festival.
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OTROTORTO nunca caminharam direito – o exercício musical do trio que junta Jorge Coelho, Jorge Queijo e Miguel Ramos torce a formação tradicional de guitarra-baixo-bateria, com harmonias desafiantes e melodias que não primam pelo familiar. É na tensão que se resolvem e na dissonância que se cantam e encantam, criando uma linguagem desconcertante que envolve e desenvolve nos seus próprios termos, mas com frequências que todos partilhamos. Os OTROTORTO suspendem-se sem nunca cair e revelam-se contadores de histórias como poucos instrumentistas: fluentes e fluídos.
“Letargia em Ré Menor” foi o último lançamento destes mestres de sinfonias, uma metáfora sonora sobre a potência da compreensão, da contenção, da gravidade enquanto força e dos efeitos de se lhe inclinar em livre-arbítrio.
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Paisiel é o enigmático nome do projeto do baterista, percussionista e escultor sonoro João Pais Filipe e o do saxofonista alemão Julius Gabriel. Alicerçado numa exploração individual do som e das possibilidades expressivas dos instrumentos de cada um, a música deste duo corresponde a um impulso de sistematização de referências sem correspondências, nem afinidades óbvias. Melodias texturadas e abstratas propulsionadas por uma percussão simultaneamente mecânica e existencial que se metamorfoseia num transe cinético. Músicos heterodoxos e digressivos, movendo-se livremente entre a música experimental, o jazz, o rock e as restantes declinações indecifráveis de novas categorias musicais, João Pais Filipe e Julius Gabriel criam música radiográfica que habita algures numa zona intermédia entre a recepção e a emissão de sinal, como uma central telefónica do cosmos.
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Enquanto o país arde de tédio, as Sereias mergulham de vez no jazz-punk que promete ser hino de uma campanha que urge trazer para as ruas. No centro a poesia mordaz de A. Pedro Ribeiro, poeta maldito, anarquista, ex-candidato a Presidente da República, em choque constante com os ambientes turvos, electrónicos e imersivos dos mascadores sónicos que o acompanham. Em disco colocaram o “País a Arder”, atirando-nos, num só golpe, para o divã. E como o Portugal artístico precisava disso! Este é um tratado político, social e filosófico, num tempo em que tudo isso corresponde a uma afronta ao “status quo”, ao grande mestre. Escrito com uma violência enganadora, nas entrelinhas da provocação, na epiderme de uma couraça onde se pode bater à vontade. Não só nas letras, mas também na música. Neste formato avantgarde, punk, free jazz e post-rock que provoca a erupção voluntária de sentidos, na liberdade da execução e na negação dessa mesma postura convencional. Uma (in)disciplina “zappliana” que nos leva para os territórios de This Heat, Pere Ubu ou The Fall. E se o disco representa uma audácia aviltante nessa multiplicidade de perfis, a “praxis” ao vivo é não só direta, intempestiva como canibal e exasperante. O equilíbrio mantém-se à base dos extremos e tão desconfortáveis no palco se parecem, que acabam por manter o foco no público.
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Fundador do grupo Garotas Suecas e colaborador regular de Yonatan Gat, o nome de Sessa não será novo para os mais atentos à cena musical brasileira e americana. Em “Grandeza”, o seu disco de estreia a solo, descobriu o espaço para explorar a sua própria visão sobre aquele que é o imenso território sonoro do Brasil. Daí que não seja de estranhar que neste disco, que o mesmo classifica como uma homenagem ao seu país, se encontre a visceralidade e sensualidade da palavra, a lembrar o caminho criado por Caetano Veloso, e os arranjos melódicos de quem cresceu a ouvir Tom Jobim. Mas “Grandeza” não se fica por aqui. Num esforço de condensar a riqueza de ritmos e texturas da música cantautoral brasileira, descobre-se aqui um novo caminho, a apontar o futuro: o da complexa simplicidade como ponto primeiro do que é belo.
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Por esta altura, tornou-se natural assumir de que a água de Barcelos tem qualquer coisa de especial. O que será não saberemos ao certo, mas o que tem feito pelo rock deste país é um feito admirável. Os Solar Corona nasceram desse borbulhar criativo de uma cidade que mostra como se escreve rock com linha tortas. Como deve ser. Formados em 2013, em 2016 assentaram em quarteto, com Rodrigo Carvalho (guitarra / sintetizadores), Peter Carvalho (bateria), José Roberto Gomes (baixo) e Julius Gabriel (saxofone / sintetizadores). Após a edição de três EPs, os Solar Corona chegaram a “Lightning One”, o primeiro longa-duração, fruto de anos de labor à procura do som que triunfasse nesta formação. “Lightning One” é uma viagem no topo, com as coordenadas certas na mistura, a cargo de José Arantes, masterizado por Chris Hardman e artwork de Serafim Mendes, que transcreve numa imagem a imensidão de estradas psicadélico-trópicas que se fundem nos Solar Corona.
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Nascidos no seio dos intermináveis lockdowns do COVID e da força criativa indomável dos seus membros, os Tramhaus são um grupo de amigos que compartilham o amor por tudo que toca o reino do pós-punk. Sentindo-se mais à vontade no desconhecido e no intransponível, a banda é caracterizada pela vontade inesgotável de reinvenção, trabalhando nas fronteiras do referido género. Também liricamente nutrem a vontade de cruzar fronteiras, criando tanto canções punk sobre governos falidos, como baladas introspectivas sobre emoções suicidas. A receita final: uma experiência ao vivo inesquecível, que tem vindo a ser elogiada internacionalmente pela sua energia e vivacidade.
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No Verão de 2017, Kees Berkers e Yves Lennertz começaram a escrever e gravar canções numa escola de ballet na isolada vila de Plateau van Doenrade, nos Países Baixos. Ávidos coleccionadores de discos, os Yin Yin transportam para a sua música a variedade de géneros que podemos encontrar nas suas prateleiras de discos. Partindo da música sul asiática dos anos 60 e 70, construíram um diálogo multilingue, com avanços pela música do mundo, funk e electrónica. “Pingpxng”, a cassete com que se estrearam, simboliza isso mesmo, explicando, em detalhe, como duas forças aparentemente opostas podem actuar em complementaridade.
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Papadupau e Spazzfrica Ehd andam há mais de dez anos a testar os limites da criação sonora humana. O duo, oriundo da Catalunha, conta com mais de meio milhar de concertos ao vivo em cinco continentes e seis discos que nos explicam, detalhadamente, as múltiplas possibilidades da polirritmia. O mais recente, “Pachinko Plex”, fá-lo sem se tornar excessivamente analítico, resumindo influências globais e tendo a técnica como norte no caos que só eles sabem construir. Passo em frente na experimentação DIY a que gostam de chamar “post-worldmusic”, e no espírito livre com que olham a sua própria música, “Pachinko Plex” é mais uma imperdível e cavalgante viagem por melodias, percussões e desordem.
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Alto!
Aspen
Arp Frique
Black Bombaim & Peter Brötzmann
Cave Story
Dreamweapon
Duquesa
Equations
Filho da Mãe
Glockenwise
Green Machine
Gonçalo
Jacco Gardner
Jibóia
Larkin
Les Filles de Illighadad
Live Low
Long Way to Alaska
Loosers
Medeiros / Lucas
Memória de Peixe
Mr Miyagi
Samuel Martins Coelho
Sequin
Stone Dead
The Comet is Coming
Throes + The Shine
Não somos propriamente fãs do conceito de super grupo mas apreciamos, por vezes, providenciar caldinhos destes.
Angélica Salvi, Ece Canli, João Pais Filipe e Pedro Augusto são quatro músicos e compositores que têm trilhado, paralelamente, um importante percurso nacional e internacional nos campos da música experimental, da electrónica e da investigação sonora. Todos com discos recentemente editados, as ligações que têm estabelecido multiplicam-se entre colaborações e coedições mas nunca desta forma tão próxima.
Em pleno inverno pandémico, enquanto preparavam uma primeira e última apresentação enquanto grupo, o quarteto ad hoc aproveitou o tempo desses tempos para gravar um disco que tem tanto de frugal como de pujante, epítome do que se poderia apelidar, certamente, de transe magnético com um trabalho de composição original de voz, percussão, harpa e sintetizadores.
L&L#143
Gravado ao vivo no incónico Cafe Oto em Londres, esta é a primeira gravação dos Solar Corona no formato Elektrische Maschine. Uma oportunidade para separar o trigo do joio e ver como o quarteto tece a sua tapeçaria cósmica. Uma exploração eletrónica sem limites e sem fim.
Depois de discorrerem sobre os mais recentes tratados pós-punk e ondas revivalistas de sintetizadores no seu Bazar Esotérico, depois de reverem a documentação gótica submetida à consideração do plenário em Ata Saturna e de pedirem peer review por via de um disco de remixes, restam muito poucas dúvidas de que os Conferência Inferno são os maiores especialistas das práticas negras do rock elétrico em Portugal. E é nessa condição que voltam a expor a sua inventiva metodologia de hermenêutica sonora através do novo álbum Pós-Esmeralda, um conjunto de canções que se propõe a expandir as possibilidades emocionais do ensemble portuense.
Para este tento, a Conferência Inferno não se fica pela condição de emissária e cresce para o papel de mestre de cerimónias, trilhando um caminho sónico cada vez mais próprio. A essência do elétrico sobre o orgânico em maus modos mantém-se, mas sem que isso defina taxativamente os tons com que pintam as novas canções. O negro mantém-se sem prevalecer sobre os cada vez mais presentes tons mais vivos dos novos traços harmónicos. A dicotomia primordial do seu género desdobra-se em várias tensões, cada vez mais exclusivas do trio portuense e que lhes permite, em oito canções, fazer um registo de como soa um equilíbrio consternado.
Há um descortinar de alegria tétrica desde os primeiros segundos, com camadas de melodias maiores nos sintetizadores de Raul Mendiratta e nos teclados de José Silva em confronto com o desespero vocal e lírico de Francisco Lima; há uma crescente energia na catadupa percussiva da caixa de ritmos e nos tons graves protuberantes; e há sempre dança, na epilepsia rítmica que o new wave sempre invocou, com os movimentos coreográficos como alternativa à violência do punk sem prefixo, que mesmo assim não se manifestam menos impetuosos, tensos, secos, nem rápidos. São, em suma e fazendo jus ao seu epíteto, infernais.
No outro lado da balança, surgem canções que desafiam a concepção da própria palavra, em duração, em estrutura e em ambiências, e que exploram outro tipo de sensações análogas do desalento, em que lentas progressões, com texturas menos abrasivas nas melodias, grassam a beatitude e a redenção. Não fosse o negrume das letras e estariam perdoados.
A Conferência Inferno reuniu-se sobre o livro de São Cipriano para fazer o mapa astral do pós-punk. Todos os planetas estavam em retrógrado, todos os ascendentes em saturno, e só eles sabem em que inferno está a lua. Pós-Esmeralda é resultado invocado de um ritual macabro deste pandemónio de new age ocidental, cheio de ironia, pesar, êxtase e esgares. Dance-se o fim do mundo, pois somos todos corpos, e ouça-se a Conferência.
Puro e duro, assim se quer o rock. Chocalho de bota dura em gravilha gasta, guitarras ao alto e fumo denso, jogos de snooker em que ninguém mete a preta e mais de 666 cervejas entornadas irmãmente entre o corpo, o chão, e o balcão, qual santíssima Trindade, três elementos da mesma substância, das mesmas substâncias, pois se o balcão aguenta o corpo, o corpo aguenta o chão, que remédio.
Surgido no pico da pandemia, Cobrafuma é um elenco de proto-veteranos do Porto que ouviram o chamamento da Cobra entre shoppings manhosos, bares de chão pegajoso, encarcerados pela lã de rocha húmida que protege a periferia.
Nesta primeira bisca homónima, som é rijo como aço e cheio de veneno, e rasteja entre géneros que não prestam contas a ninguém: punk, thrash e rock'n'roll, sibilado em Português Suave e bem regado a aguardente bagaceira sem rótulo, para abanar o capacete como se não houvesse amanhã.
L&L#135
Faz-se na triangulação entre três universos distintos, o novo projeto dos ZA!. Num vértice a música polirrítmica de uma banda que é já um culto no universo underground, noutro o duo à capella trans-folk Tarta Relena e, no terceiro, o quarteto La Mega Cobla, que tem usado os seus instrumentos tradicionais em contextos inusitados e contemporâneos. Junto pela vontade de criarem a sua própria visão da música mediterrânea, filtrada pela distorção e a psicadelia, os ZA! & TransMegaCobla atiram-nos uma visão retro-futurista da folk music, reclamando a vivacidade das costas do Mediterrâneo e das suas possibilidades de experimentação infinita.
Da buleria à kopanitsa, da gnaoua à sardana, TransMegaCobla funde as diferentes heranças que ligam as culturas desta região, criando um universo amplamente marcado pela humanidade e pela festa. Recuperando a língua fenícia, o octeto procura as raízes comuns para as reconfigurar de acordo com moldes contemporâneos. Uma orquestra intemporal pronta para inventar um Mediterrâneo de ficção científica numa realidade paralela.
L&L#134
Um disco de remisturas com contribuições de 7 produtores e djs nacionais, disponível no bandcamp em modo name your price.
L&L#133
Um diário de viagem que une espaço físico e interior, uma série de estados de transe representados em cores vivas, um portal delirante para o éter. O primeiro álbum de Marlene Ribeiro em nome próprio é tudo isto e muito mais. Toquei No Solé um novo capítulo para esta artista única, de longe o passeio mais melódico e transcendente até agora para seu hipnótico pop dos sonhos.
L&L#132
A próxima rotação do motor Solar Corona traz consigo uma expansiva e inebriante viagem psicadélica: PACE.
O quinto disco da banda, muda de marcha com o dub mecanizado de Lorr No (Nuno Loureiro) a assumir os comandos do som do trio central — Rodrigo Carvalho (guitarra/sintetizadores), Peter Carvalho (bateria), José Roberto Gomes (baixo) — e a levá-lo para uma corrida fora da estrada.
As ideias cruas de cada faixa foram ensacadas em Alpendurada, nas margens do Douro. Após um processo de destilação de dois anos, os riffs e materiais base atingiram uma concentração não muito diferente do luar alquímico característico do norte português dos Solar Corona. Princípios simples e mecânica firme são canalizados para jornadas perenes onde velocidade e ritmo permanecem distintos.
Cada faixa celebra um elemento específico à sua maneira. O tema introdutório Heavy Metal Salts estabelece o pulso de PACE, com detalhes eletroacústicos cintilantes trazendo-lhe uma dose de lisergia. A faixa-título Pace suaviza a paisagem sonora dos Solar Corona e destaca-se como um mantra espacial sem riffs, solos ou a necessidade de headbang. Faixas lideradas por guitarras como Thrust e AU retornam ao rock-n-roll a bater no sinal vermelho, que é uma constante nas veias da banda, antes de ser injetado por seu novo, mais etéreo, espaço sónico. O groove incessante de Parker SP, construído com baixo saltitante e bateria direta, fornece o terreno para os outros membros descolarem rumo a outras atmosferas. Alpendurada fecha o álbum com um toque épico, ao sabor das entradas e saídas da banda pela psicadelia.
Os dois últimos trabalhos do Solar Corona, LIGHTNING ONE e SAINT-JEAN-DE-LUZ (ambos lançados em 2019), também em formato quarteto com o saxofonista Julius Gabriel. A saída de Gabriel da banda em 2020, deixou uma vaga em aberto para Lorr No (Fugly, Favela Discos) trazer seu próprio toque ao à identidade stoner progressiva da banda.
PACE leva o ouvinte por uma jornada ambiciosa. Para fãs do rock expansivo de bandas como Endless Boogie, Circle, Pharaoh Overlord, Hawkwind e GNOD.
L&L#131
A música de Angélica Salvi situa-se entre a memória, familiaridade e relações. Talvez seja um desrespeito pelas regras começar por uma referência à música da harpista por via do abstrato, ao invés de arrancar com a referência de que é espanhola, reside no Porto desde 2011, e que Habitat é o segundo registo a solo, depois de Phantone (Lovers & Lollypops, 2019). Mas esse “desrespeito” faz parte também da música de Angélica Salvi. Não pede desculpa para ser como é. Faz esquecer os factos, abre de imediato um imenso leque de sensações e respira uma linguagem que qualquer ouvido entende. Nan, o tema de abertura, consegue, em meros segundos, criar uma levitação sonora. Isto antes da harpa, como a imaginamos, fazer-se ouvir.
Se Phantone existia nessa palavra criada entre Pantone e Phantom, favorecendo uma viagem pela memória, as harmonias abertas, coloridas e conviviais de Habitat promovem uma ideia de presente, de viver o momento. Gravado em Maio deste ano no seu estúdio (Garagem 16), Habitat é um grande passo em frente. Parte disso tem a ver com a comunicação direta destes oito temas. A harpa continua a ser o elemento central, mas há um maior uso de efeitos e processamento de som que tornam o som mais especial. O facto desse trabalho ter acontecido em tempo real, para tornar possível que o som se consiga reproduzir e processar de forma direta, tornam a experiência sonora bem mais real, viva, efervescente. Essa abordagem permite igualmente que o som da harpa aconteça com presença de espaço. Imponente, faz-se ouvir, causa estrondo.
Os sons parecem uma porta para um caminho, sem que algo se feche. As melodias encantam, mágicas, sem feitiços, adornadas por algo de etéreo. Os temas de Habitat ouvem-se como canções e menos como peças. Curiosamente, evoluem como composições abertas, luminosas e que irradiam luz. Há algo de relacionável aqui, tal como em Phantone, mas se aí existia um convite pela memória/nostalgia, aqui é como se a música esticasse a mão e quisesse andar lado-a-lado. Os sons encontram-nos, apanham-nos desprevenidos – daí ouvirem-se como canções próximas, familiares – e ecoam com uma vontade de levitar. Talvez por isso, se sinta que a música de Salvi dá a mão, para não se fugir com as canções. Quer-nos ali, a conviver com ela naquelas melodias.
L&L#130
Deusa Náusea sendo intimamente incomum, balança-nos no berço de um bebé febril com a sua formosura fragmentária e sua delicadeza que nos serpenteia o cérebro todo. Polarizado, invertido, perplexo, epitelizado por processos espectrais e pura beleza. Pedaços de vozes cortados e beliscados em gotas métricas deixam-nos em constante tele-transformação, a centrifugar os nossos interiores mais profundos como se quisesse quebrar, com força suficiente, a matriz estrutural duma canção. Inês Malheiro, com a sua visão periférica e um ramo de Gerberas e Peónias, faz deste dia um prazer anisotrópico.
Edição de Aniversário
Lovers&Lollypops: 17 anos a celebrar o inconvencional
E eis-nos de repente à porta da maioridade. Dezessete anos volvidos desde a primeira edição, continuamos a habitar os nossos dias de histórias e desafios, ao lado de bandas e artistas que nos ajudam a celebrar o inconvencional, a encontrar conforto no desafio e a apaixonarmos pelo que ainda está para vir. Não podíamos celebrar esta data de outra forma que não fosse com o lançamento de mais um disco, uma espécie de revisita (sem saudosismo) ao caminho que nos trouxe até aqui, selecionando um conjunto de temas que, de alguma forma, resumem cada ano de vida. Integrados nesta compilação estão temas de: Sikhara, Lobster, Dansse Damaje, The Astroboy, Black Bombaim, Long Way to Alaska, The Glockenwise, Equations, Jibóia, Killimanjaro, Medeiros/Lucas, Filho da Mãe, Stone Dead, João Pais Filipe, Angélica Salvi, Ece Canlı, Conferência Inferno e Sereias.
Juntamente com esta compilação aniversariante abraçamos mais um projecto, numa colaboração com coletivos e projectos que habitam o dia-a-dia cultural do Porto, aquela que é (sempre) a cidade de onde partimos. Uma série limitada de macacões, personalizados com as ideias bordadas da Tilo, e “trazida à vida” por um vídeo dos Ovo Estrelado. Seis cores, 3 tamanhos, trinta e três modelos diferentes entre si.
L&L#129
Disco de estreia de RA FA EL, projecto a solo de Rafael Ferreira (Glockenwise, Evols, Septeto Interregional, Duquesa).
O EP homónimo tem como ponto de partida a colaboração constante com outros artistas e por isso, o que tinha tudo para ser um trabalho a solo, acabou por ser uma espécie de “big band", onde as várias terminologias da pop são o porto de abrigo dos seis temas editados. Explorando e aprofundando o trabalho de Rafael Ferreira enquanto compositor, o disco conta assim com as colaborações de Éme, Primeira Dama, Vítor Nuno Santos, Zé Pedro Vinagre, Tiago Ferreira e April Marmara**.**
L&L#128
“Recomecemos tudo de novo” grita A. Pedro Ribeiro a descerrar o novo álbum dos Sereias, abrindo espaço para o deambular de uma guitarra abrasiva sobre um ritmo persistente e incursões de teclados com reminiscências jazz-rock à anos 70. É este o mote para o novo álbum, um recomeço onde encontramos o free rock dos Sereias em todo o seu esplendor, uma mistura de post-rock e kraut em progressão contínua, tenso, obsessivo, massacrante, em jogos de texturas e piscar de olhos ao free-jazz e à música contemporânea e mesmo a algum tribalismo. Deste caldeirão sónico sai a voz psicótica de A. Pedro Ribeiro, ora gritada ora murmurada ora declamada, ora colérica ora depressiva, e a sua poesia bruta, de poeta de café em invectivas contra o mundo ou em lamentações existenciais. Mas contrariamente a “O País A Arder”, o disco de estreia, há aqui menos palavras de ordem sonantes, tipo “quero um primeiro-ministro para comer ao pequeno-almoço” ou “as putas da tv”, e um maior desespero face ao mundo, com as ambiências musicais a ganharem um protagonismo e um espaço inesperado, como em “Las Cadenas” – onde as vozes electronicamente traficadas desenham estritas narrativas sonoras –, e as ladainhas recitadas a serem repetidas uma e outra vez, a sublinhar a sensação de perda e o tom melancólico e angustiado que percorre todo o disco. “Ela vem, volta sempre, a depressão”, como rediz à exaustão A. Pedro Ribeiro, abandonando-se ao fado da inadaptação social e da carência afectiva que o faz cair “no fundo do copo, no fundo do abismo” por entre farrapos de melodia. E de nada valem as visões apocalípticas nem os avisos de que “a coisa vai estoirar” apoiados num crescendo rítmico de tramas explosivas, pois o destino está traçado: “voltar, voltar sempre”. E que bom que é este regresso! Numa altura em que a música portuguesa navega maioritariamente por um nacional-cançonetismo modernizado disfarçado de pop é uma bênção ouvir estes Sereias e a sua quimera disruptiva sob a forma de música, onde a criação é um impulso vital e urgente. Bem hajam!
L&L#127
Do Claro ao Breu desenha-se como um objecto de contrastes, integrando duas composições antagónicas e independentes, como se de uma representação do dia e outra da noite se tratasse. O lado A, mais luminoso, parte do trabalho que o coletivo realizou com o bailarino e coreógrafo José Artur Campos para a sonorização da curta de video-dança Meia de Leite. Uma composição onde a polifonia de vozes, rica em atmosferas e paisagens, enceta um diálogo com dois poemas de Eugénio de Andrade: Falo de um Verão e A uma fonte. Um universo de névoas encantatórias a servirem de tecitura para algumas das mais frequentes imagens da tradição portuguesa: as mãos, os frutos, as estações, a ligação à terra e os ciclos. O Lado B, vira-nos para o obscuro e para o nocturno, espaços por onde vagueiam os medos e as superstições, numa viagem em torno de elementos sinistros e grotescos do imaginário popular tradicional. Esta composição resulta da colaboração das Sopa de Pedra com o coletivo portuense Oficina Arara, onde a proposta foi a de musicar textos inspirados nas superstições populares já desaparecidas ou residuais, mais concretamente algumas rezas, orações, ensalmos e benzeduras ao ar.
L&L#126
Através de uma constante chamada e resposta, as camadas de ostinatos / repetições são os meios através dos quais COBRACORAL assumem uma textura sonora única, que deriva da voz. Enquanto que uma das vozes insiste num fragmento de apenas duas notas, outra voz vai ocupar os lugares rítmicos vazios de forma a construir uma base harmónica que servirá de base para uma terceira voz. COBRACORAL exploram o potencial da voz através do uso de efeitos sonoros e do gesto, para amplificar a experiência aural que sugere a extensão da voz para além dos limites elétricos e corporais. O movimento dos corpos também molda o som, tal como um eco artificial, um delay, ou uma mudança de tom. Este é um trio vocal contemporâneo, elétrico e eletrificante.
Padrões geométricos dão cor à superfície de COBRACORAL, tal como a espécie de cobra que serviu de inspiração para o nome do trio. Cada música tem o seu padrão respiratório, um rito comunitário que se concentra no movimento do ar, em que os atos de inalação e exalação se tornam sistemas complexos que transformam o tempo numa expressão vocal. O tempo da respiração merece um imenso cuidado na sua dimensão lúdica, e ao mesmo tempo de energia vital, sendo uma responsabilidade partilhada pelas três. Cantos ritualísticos, ciclos oníricos e técnicas vocais contemporâneas formam a paisagem rítmica, imagética e narrativa de COBRACORAL.
L&L#125
L&L#124
Os acasos, como o ritmo, repetem-se e não raramente seguem padrões — às vezes com o intuito claro de os quebrar. Quando, em 2017, a convergência dos dois percussionistas prodígio João Pais Filipe e Valentina Magaletti levou à criação de CZN, a repetição de acontecimentos ficou inscrita nos destinos dos músicos, tal como os eventos que resultariam no capítulos que sucederiam The Golden Path (2018). A forma como estes se desenrolariam, contudo, é apenas um eco dos passos anteriores, modulado pela constante evolução dos seus intervenientes.
Commutator é uma metáfora do processo que guia os CZN (ou copper-zink-nickel, os metais que compõem as esculpturas sonoras, ou instrumentos com dimensão visual, de João Pais Filipe): uma convergência de percussionistas que trilha direções além dos caminhos óbvios através do apontar de coordenadas a evitar. Os tempos óbvios, a repetição de cadências, o fixar de um ritmo e o desígnio de os evitar são a matéria que liga Valentina Magaletti, João Pais Filipe e Leon Marks neste registo, onde o ritmo é antítese de dança, onde a possibilidade de decorar gestos se dilui nos movimentos dos percussionistas e as texturas melódicas do produtor mergulham nos timbres da parefernália singular dos três músicos.
O resultado será, inevitavelmente, a antítese da regra, sendo a norma de evitar. O aborrecimento não faz parte da música dos CZN, a circularidade só entra na equação por via de rodas dentadas e da sua relação simbólica-simbiótica, de uma química análoga à combinação de metais que marcam o som do trio. Numa sucessão de avanços seguros e hesitações clínicas sobre sons ambientais, Commutator é mais do que um tento novo para cada um dos músicos que dele fazem parte; é um documento de valor perene, esdrúxulo e com vida própria.
L&L#123
Os mapas estabelecem um lugar, um mundo do qual podemos ou não fazer parte, mas que é conhecido até certo ponto. Haverá sempre uma fronteira, um limite, um lugar onde as coisas são desconhecidas e onde apenas podem ser especuladas.
Vozes Antenas Fragas, o disco de estreia de Montes, é uma cartografia dividida em quatro partes do duo formado por Kauê Gindri e Arianna Casellas onde, juntos, enrolam e desenrolam um novelo despenteado de sons à força de imagens desenhadas por entre nevoeiros citadinos e misteriosos cumes de montanhas que até se poderem alcançar, vivem só na vontade de a elas se chegar.
Traga-Mundos em forma de disco, Vozes Antenas Fragas surge do trabalho comunal, impulsionado por um confinamento e inspirado pela vista para as montanhas no horizonte que deram origem ao nome da banda, quadro sinóptico onde a luz, a sombra e os gestos dançam.
Os mapas não precisam ser lugares distantes para que façam sua magia sobre nós e os quatro torvelinhos que compõem o disco de debute da dupla revelam-se como coreografias livres de cor, ritmo e timbre.
L&L#22
L&L#118
Gustavo Costa é um músico e um artista de inúmeros talentos que se guiam por uma exploração constante dos limites da escuta. Teve formação musical desde cedo, mas o seu percurso transcende em muito as fronteiras da música. É baterista, mas também construtor de instrumentos, criador de novos sons, escultor sonoro, professor, programador e – diria eu – um generoso impulsionador da música contemporânea e da arte sonora que hoje se faz em Portugal. Tudo isto sem que, em algum momento do seu percurso, tenha perdido o foco ou apontado as luzes na sua direcção.
Talvez seja este o motivo pelo qual, só agora, volvidos 30 anos de ligação intensa com o universo musical, colaborações diversas e criações extraordinárias, Gustavo se decidiu a apresentar o seu primeiro disco a solo com o instrumento que o acompanha desde criança – a bateria e a percussão. Entropies and MimeticPatterns é um registo surpreendente, que nos dá a sensação de uma concentração paciente, meticulosa, como se toda a sua trajectoria tivesse convergido para chegar até aqui. À entropia, que representa desordem e aleatoriedade, Gustavo responde com padrões que ligam gesto e emoção e que provocam uma sensação de presença, de proximidade. É apenas um músico em frente ao seu instrumento, mas a comunhão permanece, como se uma vez mais, fosse a partilha que orienta os seus propósitos.
É dessa sensibilidade exploratória que se compõe este disco, um registo pessoal onde Gustavo organiza o caos e a energia percussiva em ritmos complexos e inesperados, um reflexo do seu universo sónico particular em que somos convidados a entrar.
L&L#121
Resultante de um desafio lançado pelo Musicbox à Lovers & Lollypops, este disco regista a criação colaborativa do Septeto Interregional, composto por seis músicos de diferentes pontos do país, Arianna Casellas (Sereias), Mr. Gallini (Stone Dead), Rafael Ferreira (Glockenwise), Rodrigo Carvalho (Solar Corona), Violeta Azevedo (Savage Ohms) e Zezé Cordeiro (Equations), e um designer gráfico, Serafim Mendes.
L&L#120
Candura, controlo e gentileza são características do segundo álbum a solo de SamuelMartins Coelho, “Cura”. Descrevem também a reunião simbiótica que conduz entre jazz, clássica/contemporânea e folk/country. Os títulos das canções elucidam sobre a reconciliação com a vida em tempos de pandemia – “Cura”, “Respirar”, “Vento”, “Pele”, ou “Terra” – e o que se ouve nelas sente-se como a tensão e a incerteza de um músico que quer sair e crescer.
A carreira de Samuel passou – até ao momento – por diversos projectos e participações, seja como músico ou compositor, em 2019 acusou a vontade de criar em nome próprio e editar um álbum a solo – “Partita Para Violino Solo” - com o instrumento que o levou a isto tudo, o violino. Dois anos depois, “Cura” é sinónimo de crescer e conforto, seja com o lado material, o violino e a guitarra que o acompanha, seja com aquele que se pode considerar mais espiritual, o da criação e da autorrealização enquanto compositor.
A cura não tem de ser um processo pesado. Os traços de procura – confusão? – que surgem desenhados em alguns temas, como “Vento”, soam como diálogos de SamuelMartins Coelho com o ouvinte e não procuras internas. Como se os becos que a pandemia colocou na cabeça de todos nós saíssem cá para fora para comunicar uns com os outros. O som comunica uma planície de desconforto e ansiedade mas, às tantas, deixa de ser só sobre o músico, quem executa, e passa a ser sobre nós, deste lado. E, no fim, sobre todos.
Essa é a maravilha da partilha de “Cura”. Um acto contínuo de descoberta e execução, entre Penguin Cafe Orchestra, Max Richter e Jóhann Jóhannsson, em que o músico usa o isolamento e as convivências – ou falta delas - das restrições, para criar uma linguagem clara que se oiça como música de comunidade. Há bondade e gentileza em todos estes sons. Em “Awakening”, o último tema, Samuel Martins Coelho parece querer dizer que a cura chegou finalmente ao fim. Talvez para si, para nós, ela só agora começou.
L&L#119
Depois dos escombros encontrados no Bazar Esotérico que revelavam o esboço de um ritual anarco-religioso inspirado nos ensinamentos de espíritas da darkwave post punk, foi encontrada a Ata Saturna, de leitura turva mas que identifica 3 cientistas (Francisco Lima, Raúl Mendiratta e José Miguel Silva) encarregues de sintetizar uma figura robótica, mais consciente e senciente que os humanos seus contemporâneos.
Segundo os primeiros relatos dos que tiveram contacto com a Ata Saturna, os experimentais cientistas, aparentemente movidos por uma embriaguez sádica, criaram uma entidade especialmente capaz de encontrar desilusão. Quem já se cruzou com este ser, descreve um novo messias, que traz novas niilistas em melodias simples e cativantes, gritando constantemente que ‘o apocalipse já aconteceu, a sina cumpriu-se, a anarquia conteve-se, o amanhã não é promessa, a ansiedade é perpétua, o Sol nunca nasce aqui.’
O engenhoso invento, encomendado com o objectivo de viciar os humanos nas suas contradições mais básicas, foi testado confidencialmente e os resultados, agora disponíveis para o mundo, mostram que o planeta pode ter construções mais empáticas que os seus criadores e semelhantes. Os ideólogos da Conferência Inferno acreditam que só um espelho na nossa desumanização nos humanizará e só nos salvaremos quando todos os dias forem odes ao deus Saturno e os escravos trocarem de lugar com os seus amos.
L&L#31
L&L#117
Ao fim das oito canções de Vox Flora, Vox Fauna, Ece Canlı prova a capacidade de encurtar distâncias entre a paisagem mais celestial e o cenário mais rude. A artista turca – que actualmente reside no Porto – incorpora a sua voz em ambientes que parecem contrastantes no papel mas que formam harmonia na construção musical que lhes dá. O modo como Ece Canlı trabalha a voz avança em favor de uma pulsão constante ao longo de Vox Flora, Vox Fauna.
Tem criado paisagens noutros projectos – Nooito, Live Low e Cobra’Coral –, a solo, Ece Canlı, repete insistente e consistentemente de que ainda é possível criar narrativas únicas, trabalhando ideias de extremos no meio. Isto é, está constantemente a celebrar pontos que unem estilos, buscando influências de ideias/construções da folk tradicional, trabalha-as num prisma da electrónica-experimental e joga isso tudo com o sentido de música natural, sons que ao invés de replicarem a natureza, são demonstrações de paisagens, climas, vivências em cenários.
Através dessa estrutura sonora, Ece Canlı aproxima o ouvinte para o seu meio. Os ambientes são uma porta de entrada, a voz – como a usa, como cria línguas e faz poesia sem fronteiras linguísticas e formais – é o elemento que agarra e reencaminha as sensações por estas canções habitadas pela generosidade e violência da relação do homem com a natureza, a natureza enquanto tudo o que está em redor e que se muda e adapta.
Vox Flora, Vox Fauna evita existir como um álbum de céu e de inferno, de luz e escuridão, de opostos. Aproxima-os, comemora-os, integra-os em canções cristalinas e vivas. A voz de Ece Canlı é o convite para quem está do outro lado – o ouvinte – entrar neste mundo e fazer parte dele.
L&L#116
Com cinco temas gravados à distância, antes e durante a pandemia, o disco do colectivo lisboeta não nasceu como de costume. Não começou na improvisação desenfreada para depois se "regrar" na pós-produção, pelo contrário, houve mais improvisação na fase das misturas do que nos primeiros momentos. Loops, percussão, baixos, sintetizadores, vozes, guitarras, viajaram no ciberespaço sobrepondo-se uns aos outros, sem que alguém sentisse falta de espaço ou pressas. Circunstâncias singulares adversas à comunhão e à ansiedade que caracterizavam o som da banda e mesmo o rock noutros tempos, mas que permitiram mais liberdades individuais. Prova disso, KILL SCREEN é o disco com "melhor som" de todos os discos dos Loosers e com detalhes que outrora a banda desvalorizava a receberem atenções redobradas.
KILL SCREEN é disco de um tempo em que não é fácil processar toda a informação e desinformação e em vez de se discutir política se discute continuamente se a terra é plana, se as vacinas provocam autismo, se existe racismo e machismo, enquanto vamos vivendo realidades intangíveis na dependência de tech giants e na frente de ecrãs.
L&L#115
Na senda daquela que é a rica tradição de experimentação no campo do Black Metal e envolto na aura de mistério e anonimato que, desde os seus primórdios, caracterizam o género, Bríi eleva a música de contornos extremos a todo um novo patamar. Uma mistura de texturas - atmosféricas, electrónicas e sons tradicionais brasileiros - transforma a sua estreia em Entre Tudo o que é Visto e Oculto numa espécie de magnum opus de um homem só.
A frieza e a crueza do som desolador contrasta, aqui, com o balanço e a naturalidade do tropicalismo, num ténue mas preciso equilíbrio entre a sonoridade cortante e dogmática do metal, a riqueza e tradição da percussão brasileira e os sons estilhaçados e perdidos de uma qualquer pista de dança.
Entre Tudo o que é Visto e Oculto é um disco de ideologia refractária, uma estreia multifacetada e liminal que equilibra o austero e o solene, o apaixonado e o frio, percorrendo longas paisagens atmosféricas, progressões de inclinação folk e caminhos de contornos tonitruantes.
Quatro temas onde o som intenso, pesado e opaco se coloca, confortável, à entrada de um território quase de sonho, numa espécie de jogo de espera pela entrada, eminente, dos reforços mais extremos da composição.
L&L#114
Na esfera do paranormal, Paisiel é, entre aspas, “um anjo da guarda responsável pelo sétimo salão celestial”. A dupla experimental Paisiel, por sua vez, contém um Pais – João Pais Filipe, baterista português e eixo central da subcultura musical experimental do país – e um -iel: Julius Gabriel, saxofonista alemão com passagens frequentes pela cidade do Porto. O que quer dizer que o nome escolhido é tão específico e singular quanto a música que eles fazem juntos, como pode ser ouvido em seu último álbum Unconscious Death Wishes.
Ambos são músicos a tempo integral: 2020 viu João lançar colaborações com o chefe de dub eletrónico Burnt Friedman - num dos lados de um EP que integrava o lendário baterista do Can, Jaki Liebezeit, no outro, para se ter uma ideia do tipo de nomes que ele pode enfrentar - e, com o afamado esquadrão Gnod, no álbum Faca De Fogo. Ele e Julius lançaram ainda álbuns a solo No entanto, a vibração que se alcança nesta sessão soa sempre exclusiva a Paisiel. Nenhum substituto vai ser aceite – ou aparenta ser possível.
L&L#113
Mariano de Melo, também conhecido como Marian Sarine, é multi-instrumentista, atua como baterista/percussionista dos DEAFKIDS, tocando sintetizadores e percussões ao vivo com o artista eletrónico de vanguarda Felinto, e, como artista solo, sob o alias Sarine.
Raízes Aéreas inspira-se em diversas fontes, como as experiências eletrónicas de Charanjit Singh na modernização das ragas tradicionais do norte da Índia, bem como em mestres organistas de diferentes partes da África, como Hailu Mergia, Mammane Sani e Hama. O álbum é também resultado da manipulação de recursos limitados imposta pelo período de quarentena na pandemia de Covid-19, propondo uma reflexão sobre a urgência e restroição desses tempos através de uma perspectiva lo-fi.
L&L#112
Faca De Fogo é uma viagem ritmicamente conduzida por paisagens sonoras mercuriais, selvagens e inquietantes. Aqui, um colectivo sonoro contracultural nascido em Mancun e um mestre da adivinhação percussiva baseado no Porto unem forças, resultando em estados de transe místicos e epifanias elementares em grande quantidade.
Depois de um encontro no Milhões de Festa, em Barcelos, os GNOD e João Pais Filipe encontraram-se, no Porto, para três dias de ensaios que serviram para lançar as estruturas básicas de um primeiro concerto conjunto na cidade. Estruturas essas que foram posteriormente gravadas, ao longo de quatro dias na oficina de João, com overdubbing mínimo, formando um poderoso retrato das faíscas que voavam e do fogo que elas produziam.
Forjado num espírito de espontaneidade e intuição, Faca De Fogo é rápido a manifestar esta química incendiária entre exploradores de mantras e revelações repetitivas. O disco percorre uma largada gama de exploração improvisada, desde a atmosfera misteriosa introduzida por 'Faca De Terra', passando pela mania polirrítmica danificada pelo kraut de 'Face De Ar', até o xamânico e clangor sombrio ao estilo de Swans da faixa-título.
Faca De Fogo é um mundo sonoro sem barreiras, um encontro de mentes e marretas em que a dualidade no seu núcleo é subsumida numa força singular tão primordial quanto metafísica.
L&L#111
Duas Vozes é o álbum de estreia a solo do compositor e artista português Pedro Augusto. Com seis temas de música não operativa, cujo único propósito é construir um programa musical que pudesse ser executada ao vivo sem programação, Duas Vozes tem uma sonoridade bastante frontal, viva e dinâmica.
Escrita a partir de duas sequências monofónicas de um sintetizador modular, marca o início de uma série de edições que evoluirão a partir do objecto inicial através da adição de novos instrumentos. Música visual que resulta fisicamente numa viagem-vídeo-álbum, onde a música de Pedro Augusto é depositada nas imagens criadas por Rafael Gonçalves.
L&L#110
É inevitável dissociar a música dos Ghost Hunt do carimbo “espacial” ou “cósmico” ou do conceito, por vezes mal empregue, de “viagem musical” ao escutá-los. A forte influência “kosmische” está mais vincada neste seu novo trabalho, que mostra que o som do duo continua eclético e sempre aberto a novas possibilidades.
O tema de abertura pinta uma autêntica descolagem para o caminho que se segue, como se os Ghost Hunt estivessem na faixa ao lado das bicicletas dos Kraftwerk numa qualquer autoestrada germânica. Outros momentos de “II”, como “Shadow Factory” ou “New Ceremony” orbitariam perfeitamente sobre qualquer lançamento inicial da Mute Records; enquanto que em “E.V.P.”, "No Exit" e a final “Fugue State” a exploração sonora a que a banda nos habituou ao vivo é finalmente registada.
Estes caça-fantasmas aterraram de novo na estratosfera das edições discográficas, provando que lá para os lados siderais ainda há muito por aprender.
L&L#109
Fundador do duo psych-funk Garotas Suecas e colaborador regular de Yonatan Gat, o nome de Sessa não será novo para os mais atentos à cena musical brasileira e americana. Em Grandeza, o seu disco de estreia a solo, descobriu o espaço para explorar a sua própria visão sobre aquele que é o imenso território sonoro do Brasil. Daí que não seja de estranhar que neste disco, que o mesmo classifica como uma homenagem ao seu país, se encontre a visceralidade e sensualidade da palavra (a lembrar o caminho criado por Caetano Veloso) e os arranjos melódicos de quem cresceu a ouvir Tom Jobim. Mas Grandeza não se fica por aqui. Num esforço de condensar a riqueza de ritmos e texturas da música cantautoral brasileira, descobre-se aqui um novo caminho, a apontar o futuro: o da complexa simplicidade como ponto primeiro do que é belo.
L&L#108
Ao longo das quatro composições de Sun Oddly Quiet, João Pais Filipe abre um diálogo com o ouvinte. Seja ele um regressado do álbum homónimo (Lovers & Lollypops, 2018), um conhecedor do envolvimento com os HHY & The Macumbas, CZN ou das colaborações com Evan Parker, Rafael Toral, Black Bombaim e Burnt Friedman. Ou mesmo alguém que se cruze pela primeira vez com os ritmos do músico nascido no Porto em 1980. A conversa entre o músico e o outro lado existe para João Pais Filipe abrir o portal do seu domínio e desafiar quem entrar a entender a singularidade dos intrincados ritmos que dão vida a XV, XIII, XI e V.
No primeiro álbum inspirou-se na electrónica/dança/techno que evoluiu da percussão do krautrock para espernear à vontade o talento. Em Sun Oddly Quiet, logo em XV, abandona, com todo o voluntarismo, as preconcepções que existem e aventura-se por numa nova estrada sem qualquer mapa. Está a tactear terreno novo na carreira a solo, evidenciado que não quer uma única associação ao seu trabalho, e que o ouvinte o perceba como um compositor/percussionista e não apenas como uma só dessas partes. Só que João Pais Filipe sabe para onde vai esse novo e desconhecido, porque já fez esse caminho vezes e vezes sem conta. É um músico sem medo do que está além.
Essa expansão criativa – e também motivacional – é empurrada por outra relação que João Pais Filipe tem com os seus instrumentos, enquanto construtor de gongos e pratos. Um conhecedor da sua matéria-prima que ousa a que o instrumento soe mais do que o seu propósito e que possa cantar mantras através de ritmos.
Maturado pelas diferentes experiências que João Pais Filipe viveu ao longo dos últimos três anos, as colaborações que desenvolveu com outros músicos, a descoberta regular de enfrentar um público a solo e viagens a África, Ásia e América Latina que permitiram os seus músculos colaborar com outras linguagens percussivas, Sun Oddly Quiet ouve-se com a sensação de um álbum idealizado com a certeza de quem sabe o hoje e o amanhã. Para o ouvinte é um mapa de um lugar incerto; um, dois, três ou quatro mantras com coordenadas exactas sobre como fazer música percussiva em 2020
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Sabe mais o diabo por ser velho do que por ser diabo e os Krypto, na estreia Eye18, mostram que sabem desta poda como ninguém. Oito malhas que nos recordam um tempo que já não volta, que piscam o olho ao passado sem nunca soarem saudosistas e que aproveitam para resgatar todo aquele balanço que a música de e com peso parece, por vezes, ter esquecido. Não sabemos quem teve esta ideia, mas por nós mereceria uma medalha. Juntar aquele que é, sem dúvida alguma, o melhor e mais alucinado vocalista que este país viu nascer (um título que, por mérito próprio, exibe desde meados da década de noventa com os Zen e recentemente renovado na insanidade dos Plus Ultra) aos Greengo, provavelmente a maior força propulsora que a Invicta viu nascer por entre baforadas carregadas de intenção e acidez.
“If we moved in next door to you, your lawn would die”, palavras de Lemmy que se aplicam na perfeição a este Eye18, disco em trepidação constante pelo vazio insaciável, com sede de sobreviver e uma vontade que nos deixa atordoados, encanecidos, amortalhados, mas também num alerta constante e eufórico provocado pela privação de sono e sonho que a música dos Krypto teima em nos inflingir ao longo dos seus 23 minutos.
Inspirada no som bruto e psicadélico dos Krypto, bem como nas suas letras, a banda desenhada que acompanha a edição, complementa e explora um universo ácido e atemporal. Guiado entre rituais e o oculto, transportando a psique por labirintos infinitos.
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Um protesto avant-garde!
Está tudo bem, certo? Está sempre tudo. Neste cantinho à beira mar plantado, templo de Sol, escravo de praia e volúpia entregue aos humores do destino, impotente face ao constante azedume e indignação do nosso queixume. Ginásio da berra lá no bairro durante a semana, clube da moda ao sábado e shopping ao domingo (repetir a fórmula a doses cavalares). Odiar a mudança, ter horror à rotura, bajular a norma, radicalizar o centro. “Tão humildezinho, coitadinho!” Nunca atrair as atenções porque somos um “colectivo”. Rasgar o ventre do individualismo e pacificar a revolta primordial que parte das tripas. Conter, conter sempre o confronto. “Vais-te chatear para quê?”
Respeitar a estabilidade e exorcizar os três anjos negros da “demagogia”, do populismo” e do “reacionarismo”.
De certa forma, “O País a Arder” é àquele elo de ligação (perdido) entre as gerações pós-25 de Abril e o novo milénio made in EU, de um “país” que foi forçado a crescer da mesma forma que o filho varão teve de tomar conta da família, nos tempos da outra senhora. Todo o álbum atravessa esses diálogos metafóricos, entre o niilismo, a tentativa de redenção, a ausência de comunicação e as consequências desse vácuo nos últimos 40 anos. Fala dos vícios e da herança pesada de um conjunto de costumes pavlovianos, deixados por uma espécie de “Laranja Mecânica” à Portuguesa. A psicanálise de um trauma nacional, que por vezes é regional e outras Europeu – sempre complexado em ser as três coisas, simultaneamente. Numa época em que grande parte das bandas se tornam caricaturas delas próprias, wannabes de uma qualquer cena, respostas aos maneirismos do momento e completamente reféns do voyeurismo social, as “Sereias” levam o país ao divã. E como o Portugal artístico precisava disso. Este é um tratado político, social e filosófico, num tempo em que tudo isso corresponde a uma afronta ao status quo, ao grande mestre. Escrito com uma violência enganadora, nas entrelinhas da provocação, na epiderme de uma couraça onde se pode bater à vontade.
Não só nas letras, mas também na música. Neste formato avantgarde, punk, free jazz e post-rock (não na aceção da etiqueta, mas no sentido literal de algo após o rock) que casa com essa mensagem, na erupção voluntária de sentidos, na liberdade da execução e na negação dessa mesma postura convencional. Uma (in)disciplina “zappliana” que nos leva para os territórios de This Heat, Pere Ubu ou The Fall. E se o disco representa uma audácia aviltante nessa multiplicidade de perfis, a praxis ao vivo é não só direta, intempestiva como canibal e exasperante. O equilíbrio mantém-se à base dos extremos e tão desconfortáveis no palco se parecem, que acabam por manter o foco no público. Nos nossos problemas, nas nossas aparências, nas nossas vidinhas! Bem sei que é apenas um álbum, mas desde os Mão Morta que não se via uma banda nacional tão corajosa, original, outsider e estrangeira no seu próprio país.
“Mas porquê tudo isto”, perguntar-me-ão vocês, “afinal toda a gente tem Facebook!” Pois, só que ao contrário do Facebook, “O País a Arder” serve o distinto papel de juiz no ringue de boxe que nos opõe a nós próprios. Não nos oferece a pílula do esquecimento “do nosso perfil”, dentro de uma Matrix amestrada.
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O álbum de estreia de Angélica Salvi expressa aquilo que se tem vindo a aprender com o seu trabalho ao longo dos últimos anos, através das suas colaborações e participações em diversos projectos: tem uma habilidade única de comunicar e de se expressar livremente com o seu instrumento, a harpa. Natural de Espanha, mas residente do Porto desde 2011, onde lecciona no Conservatório de Música. O seu percurso inclui colaborações com Evan Parker, Orquestra Sinfónica da Casa da Música, Ensemble Modelo 62, Brokkenfabriek, Butch Morris, e trabalhos desenvolvidos para a Sonoscopia ou o Balleteatro. Actualmente integra o Vertixe Sonora Ensemble e dirige o Female Effects, um projecto em volta do desenvolvimento de peças acústicas e electrónicas de criadoras femininas.
O título Phantone é um jogo de palavras que revela as intenções das peças livres e genuínas de Angélica Salvi. Um jogo em que não se brinca, a associação entre “pantone”, “phantom” (fantasma) e “tone/tom” consolida a experiência e as ideias formadas pela compositora em volta de improvisação e de música electroacústica e experimental. O álbum, gravado durante o Encontrarte de Amares, no Mosteiro de Rendufe, procura a liberdade, sonora e de como o som pode habitar um espaço com diferentes camadas e alusões a diversas caminhos.
A sala permitiu a Angélica Salvi trabalhar delays, justaposições, ecos e reverberações, criando sons elásticos e que coexistem em harmonia ao longo de Phantone. Se há algo de fantasmagórico a habitar na sua música, é o ouvinte que a procura, através da ligação dos pontos/sensações que cada peça desencadeia. O “fantasma” que existe nas sete peças de Phantone é bem real, mas menos formal do que se imagina. Mais uma afirmação do que uma presença, seja nos lugares imaginados da música de Salvi ou nos efeitos em concreto que a gravação no Mosteiro produziram na sua música. Sente-se a elevação de Angélica Salvi como compositora/solo, usando a sua harpa como uma varinha mágica que controla tempo e espaço e os sentidos do ouvinte. Música que se lê, ouve, cheira, sente e se prova
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Riding Pânico - Homen Elefante by ragingplanet
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Drugs by Youthless
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#022 Cavalheiro - Primeiro
#020 The Glockenwise - The Glockenwise
#018 Alto! - See you in Hell Ron!
#017 Quit - Trains EP
#016 Feia Medronho - Pinta Natural
#015 The Astroboy - A Derrota da Engrenagem
#014 DOPO - For the Entrance of The Sun
#013 Lovers & Lollypops - 1 Ano de Bailarico
#012 Veados Com Fome - Veados Com Fome
#011 Frango + Dansse Damaje - Fuentezfuentezfuentez
#010 EYE8SOCCER - Total Fucking Drawkness
#009 Le Jonathan Reilly - The Singles
#008 Dead Man On Campus - CDR
#007 Green Machine - Themes for the Hidebounds
#006 Veados Com Fome - Lobster/Veados com Fome split
#005 Veados Com Fome - Vol.# 3
#004 Veados Com Fome - EP
#003 Sikhara + OvO - Split
#002 Fish & Sheep + Tropa Macaca - Para o Inferno com Eles
#001 Green Machine - Green Machine
Pack de Natal
3 LP - 30€
5CD - 25€
5TAPES - 25€
(2014-Presente) O Tremor é um festival experiência que pretende criar uma plataforma de criação em diálogo constante com o território e a comunidade dos Açores, com particular enfoque na ilha de São Miguel, onde se realiza. Tendo como ponto de ignição a música, o Tremor integra, a cada ano, um conjunto de concertos que, ao longo de cinco dias, ocupam salas de espectáculo, espaços comerciais e pontos de interesse turístico. São imagem de marca do festival os Tremor na Estufa, concertos surpresa que não raras vezes acontecem em espaços naturais, e os Tremor Todo-o-Terreno, caminhadas sonorizadas que imaginam uma experiência plástica e sónica desenvolvida para um trilho pedestre específico e que culminam numa apresentação, ao vivo, na natureza.
Comprometido com o seu trabalho de ligação com a comunidade, o Tremor tem vindo a intensificar, desde 2014, o seu programa de residências, com um programa de criações exclusivas que relacionam a música com o território, activam a criação colaborativa com artistas dos Açores e envolvem diferentes comunidades na produção de espectáculos. São exemplos destas a colaboração regular com a Escola de Música de Rabo de Peixe e a Associação de Surdos de São Miguel, entre outras.
(2022-Presente) A arte e ofício da olaria é um dos mais distintivos traços da identidade cultural de Barcelos. Representativamente resumido na figura do galo que é a sua espécie de imagem de marca, o figurado de Barcelos assume-se, dentro e fora de portas, como um dos mais sui generis produtos artesanais do país. Numa altura em que a sua preservação e continuidade enfrentam o desafio do envelhecimento dos seus mestres, o BARLOS pretende criar novos espaços de diálogo entre esta prática e outras linguagens e expressões artísticas contemporâneas. Um evento que tem como ponto de partida o Centro Comercial Barlos, localizado bem no coração da cidade, a partir de onde se propõe um conjunto de ações de cariz artístico sempre com ponto de ligação à artesanato local. O Barlos conta com duas edições (2022 e 2023) e integra oficinas, música, conversas, exposições e espectáculos de criação.
Música entre Espécies Companheiras é uma série de concertos concebidos e realizados para, e com, cães e os seus parceiros humanos.
Inspirada no Manifesto das espécies companheiras de Donna J. Haraway e em estudos científicos sobre a inclinação dos cães para o som e a música, propôs uma série de concertos que resultaram de residências artísticas construídas a partir de dados e informações fornecidas por Amy Bowman, especialista em audição animal. O primeiro ciclo de concertos desenvolveu-se, durante 2023 em vários locais da cidade do Porto — entre parques caninos, jardins públicos e espaços inusitados — e contou com uma lista eclética de participações, em diálogo: OMNE, Gaspar Cohen & Francisco Babo, Violeta Azevedo & Ariyouok, Lendl Barcelos & Dora Vieira, Cobracoral e João Grilo & Suzana.
Festival anual organizado em Serralves que conta com várias atrações artísticas desde a arte performativa, música e artes plásticas.
No ambiente único do Parque de Serralves, a Festa do Outono marca a chegada da nova estação e celebra a época das colheitas, o reavivar de antigas tradições e costumes, demonstra saberes e práticas ancestrais ligadas à tradição rural, revividos no contexto contemporâneo de Arte e Paisagem que é Serralves.
Os públicos de Serralves podem visitar o Parque à noite nos meses de julho e agosto e conhecer, ou revisitar, percursos, árvores e elementos construídos icónicos, decorativamente iluminados, que transformam o ambiente noturno do Parque numa experiência única de magia e luz.
O Ponte Party People contou com quatro edições (2010, 2011, 2012 e 2015 e 2016) e teve lugar em Braga. Realizado num dos pulmões da cidade, o Parque da Ponte, o evento foi um dos primeiros, na região, a apresentar um cartaz musical composto apenas por música portuguesa emergente.
O festival Les Siestes Électroniques é um evento de Verão realizado anualmente em França e que, em 2018, começou a contar com uma edição portuguesa em Coimbra. Focando essencialmente em na música electrónica, o evento apresenta um line-up de artistas emergentes direcionando-se não só aos aficionados do género, mas também aos profissionais da área. O facto de se realizar ao ar livre e ser de entrada livre fazem do Les Siestes Électroniques um evento raro no cenário dos festivais europeus.
Com sede em Mondim de Basto, o Salto da Graça é um evento que junta música e aventura, propondo iniciativas que, em diálogo com a natureza, desenham novas rotas de descoberta do território local e propõem uma nova relação entre a música ao vivo e o meio ambiente. Canoagem, voos em parapente, circuitos todo-o-terreno, caminhadas, passeios de bicicleta e canyoning são algumas das actividades desportivas que se completam com bandas sonoras e concertos exclusivos.
GRÓIA é o acrónimo para a secção editorial da VICE “Guimarães Rocka-Ó-Ió-Ai” e nasceu de uma parceria entre a VICE e a Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. Neste festival actuaram nomes como Paus, Allen Halloween e Moullinex+Xinobi.
Desde 2010 que o Milhões de Festa tem como base a cidade de Barcelos, ponto a partir do qual se assumiu, em mais de dez anos de história, como um evento de referência no panorama musical do país, espaço de descoberta e encontro com novos movimentos artísticos e cenário para dezenas de estreias e concertos memoráveis. Apontando ao ecletismo, o Milhões de Festa conta, anualmente, com um leque diversificado de artistas nacionais e internacionais, um palco que é também uma piscina, um espaço de “taina” que incorpora o ADN da região onde opera juntando a música à comida, assim como um conjunto de propostas musicais e culturais que ocupam espaços da cidade, numa tentativa de promover o encontro do festival com Barcelos.
Foi também em seu torno que se montou um movimento de criação musical a que alguns haveriam de chamar a “cena de Barcelos”, pautado pelo surgimento de um conjunto diverso de novas bandas bandas e um movimento de criação musical colaborativa que se mantém viva até aos dias de hoje.
O 20 XX Vinte é um festival itinerante que propõe uma autêntica maratona de música e exposições non-stop. Com cinco edições até ao momento, realizadas em diferentes espaços do Porto, Guimarães e Lisboa integradas com algumas das iniciativas das mais recentes capitais europeias da cultura no país, o 20 XX Vinte pretende ser um exercício de "Estado de Arte" da cultura contemporânea portuguesa.
Rua de São Vitor, 143-A
4000-515 Porto,
Portugal
fotografias por
Renato Cruz Santos